quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Por que o nirvana é engraçado?

Gosto de ler livros relacionados ao zen budismo, aprecio muito os koans, o desvio amedrontador da estreita lógica e racionalidade do pensamento ocidental. Muitas vezes me perguntei por que, nos relatos zen budistas, quando um sábio atinge o nirvana, geralmente solta uma estrondosa gargalhada. Tive agora um possível vislumbre nirvânico.

Talvez seja o zen budismo uma piada, literalmente. Uma peça pregada a uma porção crédula da humanidade. A iluminação deve consistir no reconhecimento de que toda crença humana no sobrenatural, no místico, numa realidade externa à nossa, seja uma ingênua ilusão. Não há nada além desta vida, daí a ênfase do budismo em viver a vida, para usar um batido clichê.

A "real realidade" superior é a realidade sem ilusões. Eis enfim o porquê da sonora risada dos iluminados - subitamente descobrem que o segredo de sua religião é desvendar que a Religião é uma grande bobagem. O buda repousa nas coisas comuns porque nada há que não seja comum e natural. O ser humano se abriga sob uma espessa noite de ilusões pensando estar protegido do que quer que seja. A noite só protege contra a luz.

Um sábio do ocidente, chamado Darwin, encontrou o caminho, sua visão desanuviou-se e ele atingiu o iluminismo. O Buda repousa tranquilamente sobre meu agnosticismo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Schenberg, o sonho ficcional e o pensamento quântico

No livro 'Voar também é com os homens', José Luiz Goldfarb, comentando sobre a formação do físico pernambucano Mário Schenberg, diz que "muito da atração por seguir e conhecer mais do fascínio de relacionar o visual com o abstrato, - como no caso da Física e da Matemática, - MS percebeu, ainda jovem, existir também na arte." E eu lembro logo do conceito de sonho ficcional, como elaborado por John Gardner em seu 'A arte da ficção'. A maestria em despertar e manter o sonho ficcional é um dos segredos da arte de bons escritores. Seus textos parecem ter qualidades que os aproximam de algoritmos instruindo o cérebro a construir quase holograficamente toda a história, ambiente, personagens, ação. A palavra escrita manipula o cérebro. A manipulação é no mínimo bioquímica; dependendo de como o pensamento é gerado, no entanto, a manipulação poderia ser mesmo subatômica. Claro que tenho em mente as idéias de Roger Penrose n'A mente nova do imperador'.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A internet, a estupidez e a esperança

Já deve ter se tornado sabedoria tradicional a crença de que os tempos, auxiliados pela internet, têm tornado os povos mais estúpidos. Realmente, uma geração que tira seu vocabulário e valores de Malhação et allii não inspira muita esperança. Não acredito que a culpa seja da internet, no entanto. Apesar de conhecer vários pré-adultos que equacionam internet=orkut, há muita coisa de primeiríssima qualidade na velha e boa rede intergalática de computadores (além dos Lablogatórios, claro). Descobri hoje mais um blog recifense com um texto invejável: Trança, de uma professora de literatura chamada Flávia Suassuna. Para começar, indico este texto em que se despede de seu pai (recentemente?) morto, tocante.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ritos de passagem

Até que enfim, estou terminando meu doutorado. Terminei de escrever a tese e já estou entregando as cópias para os componentes da banca de defesa, que será dia 18 próximo, permitindo as forças reguladoras universais. Foi um parto extremamente sofrido, como foi todo o último ano. Tive problemas com meu primeiro projeto de tese, tratando da biogeoquímica do silício, e com o segundo, no qual analisava o uso da água por diferentes culturas agrícolas, mas acabei desenvolvendo uma tese com minha grande paixão acadêmica, o seqüestro de carbono por solos tropicais. Destas linhas tortas escritas pelo Destino que resultam num texto primoroso. A pós-graduação é uma das últimas instituições modernas que mantêm ritos de passagem tradicionais e rigorosos. Aqui no departamento de solos da UFV, durante o doutorado, apresentamos dois seminários, passamos por uma qualificação e finalmente enfrentamos a defesa da tese. Desnecessário dizer que nenhum destes ritos é fácil. Mas é interessante, ganha-se auto-confiança para enfrentar outros desafios. Há no entanto um ponto estranho nisto tudo: estes ritos causam uma dependência psicológica. Para mim, não adianta que tenha passado por todas as outras etapas, tenha feito bem todas as disciplinas, não me sinto um doutor, nem me sentiria se parasse com tudo hoje, sei que só me sentirei merecedor deste título depois (e não imediatamente) da defesa da tese, mesmo sabendo que esta é em geral a etapa mais "tranqüila", mas é o rito final, depois do qual serei um doctor scientiae. Como somos estranhos nós, os primitivos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Opinião dissidente

Apesar do entusiasmo inicial com o blog, abandonei de certa forma o Isso é conversa pela mundana razão de não ter absolutamente leitores outros que não eu mesmo. Como além deste mantenho outros blogs de mais "sucesso", deixei de lado este filho feio. Grande tolice. Que escritor deixa de produzir sua obra por prever que não será lida? Se até o grande orador Pe. Antônio Vieira se contentava em pregar aos peixes por falta (retórica) de ouvintes, quem sou eu para me eximir de dizer o que penso. Se não tenho leitores, escreverei para os bits. Gosto muito da idéia dos memes teorizada, até onde sei, por Richard Dawkins. Memes são idéias que agem como genes, conseguem se reproduzir e "pegam". O problema, quando se medita a coisa, é a impressão de que não temos pensamentos, idéias, opiniões próprias. Regurgitamos, felizes, idéias dos outros, dos criadores de memes, dos formadores de opinião, etérea elite intelectual ou o que seja. Esta geração que aí está, filha dileta de Malhação e outras excrescências, ou melhor, outros excrementos culturais, creio que abandonou o status de pensante e passou a ser repetente. Apenas repetem o que lhes dizem ser suas opiniões, pouco elaboradas e da profundidade de um pires, nas palavras de um professor que admiro, espécime raro da evanescente espécie dos que sabem pensar. A opinião dissidente é hoje uma vergonha, no mínimo uma excentricidade grosseira. O mundo ideal seria composto de papagaios adolescentes clonados. Pessoas que pensam geralmente não assistem novelas ou filmes comerciais, não fazem questão de comprar presentes de natal, não usam roupas de marca, não se emocionam com o Jornal Nacional, detestam o carnaval da televisão, acham a Xuxa uma anomalia, não são "antenados". Aliás, a expressão "ser antenado" deixa claro o mecanismo de receptividade aos memes assassinos de neurônios e de nula transmissividade de programação própria. Eu prefiro discordar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Sobre álcool e bom senso

Ainda existe bom senso neste mundo. Em um editorial de ontem (19/09/2007), o jornal americano New York Times faz duras críticas ao programa americano de produção de etanol (álcool combustível). Além de ser um processo mais caro do que se produzir álcool a partir da cana-de-açúcar (para se produzir álcool a partir da cana, utiliza-se o açúcar simples produzido, no caso do milho, é necessário que se quebre as moléculas de amido em acúcar e só então se produz o álcool), a utlização do milho para produzir etanol tem causado altas no preço desta commodity agrícola. O editorial aproveita para criticar os altos impostos cobrados para se importar etanol brasileiro bem como os subsídios que os produtores americanos de milho recebem. É bom que se deixe bem claro quem é o melhor neste caso.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Processando Deus

O senador Ernie Chambers do estado americano de Nebraska resolveu processar Deus por uma série de desastres naturais além de catástrofes como guerras, atentados terroristas et allii. O político afirma não se preocupar em informar Deus sobre o processo visto que o mesmo é onisciente e onipresente. Interessantemente, o famoso ativista ateu americano PZ Myers se oferece para defender a divina personalidade, defendendo a tese que Deus não é responsável por tudo o que lhe foi imputado, pela simples razão de não existir. Pergunto-me qual será a pena, o purgatório ou o inferno (mais apropriada seria a Terra).

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Religião de Philip K. Dick

Quem não conhece as obras de Philip K. Dick não conhece um dos maiores escritores de ficção científica do século XX além de um excelente surrealista. A escritora Ursula Le Guin, autora do clássico "A mão esquerda da escuridão" comparou-o a Jorge Luis Borges. A partir de obras de Dick se basearam os filmes "Blade Runner", "Total Recall" e "Minority Report", entre outors. Meu livro predileto é "Do Androids Dream of Electric Sheep?", a partir do qual se fez o Blade Runner. Descobri há um tempo o blog Total Dick-Head, comletamente dedicado ao escritor, e hoje descobri este webcomic sobre a experiência religiosa de Philip K. Dick, do renomado artista e ilustrador R. Crumb. No início deste ano, a renomadíssima Library of America publicou quatro obras de Philip K. Dick, elevando-o postumamente ao panteão dos grandes esscritores americanos, um reconhecimento do trabalho de Dick e um marco para a Ficção Científica. Aqui está um ótimo artigo sobre Philip K. Dick na revista Weirdo, escrito por David Gill, especialista na obra do escritor e autor do blog Total Dick-Head. Esperemos que a obra de Dick volte a ser editada em português.

Criando quadrinhos

O site Stripgenerator permite que qualquer um crie tiras de histórias em quadrinhos rapidamente. A coisa é bastante divertida. O processo de criação é rápido e fácil, mas há necessidade do Adobe Flash Player 9. Aqui vai o link para uma galeria de quadrinhos criados com o Stripgenerator.

Isto é uma choldra

Espero que ainda haja os que reconhecem este bordão do João da Ega, engraçadíssimo personagem do livro Os Maias e alter ego do autor, Eça de Queirós. A frase geralmente era dita quando comentando ou sabendo dos absurdos cometidos pela classe governante portuguesa de então. Para a nossa classe governante o bordão não carrega todo o conteúdo de desilusão e desprezo que o povo devota aos mesmos. Nossos políticos não são nem corruptos, são ladrões mesmos, criminosos. A imagem a seguir ilustra bem o que sente o brasileiro honesto:

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Soft Machines

Vocês precisam ler esse blog. O autor é, como se poderia esperar, um físico, formado em Cambridge e escreve aqui sobre nanotecnologia e atuais e possíveis usos. Recomendo atualmente esses dois posts, os quais tratam do uso da nanotecnologia, o primeiro sobre a resolução do problema energético e o outro sobre profundas mudanças inclusive na biologia humana. O autor expõe as esperanças e os medos que grassam ao redor das pesquisas e das promessas da nanotecnologia: desenvolvimento de potentes células fotovoltaicas, reversão do processo de envelhecimento pela manutenção da saúde individual de células, perigo de contaminação por nanopartículas, criação de uma sociedade urbana mais sustentável. Blog de idéias, grandes idéias!

Gravatas, astrofísicos e rock

O físico portugês e professor da Universidade de Coimbra é um dos mantenedores e mais assíduos escritores do ótimo blog De Rerum Natura. Publicou ele anteontem este interessante post sobre um livro ensinando a dar nós em gravatas, publicado por dois físicos da Universidade de Cambridge, Thomas Fink e Young Mao.


Um pouco mais além, ainda falando de físicos ecléticos, ele cita o caso do guitarrista do Queen, Brian May, que é um astrofísico de formação. Imaginei logo, preconceituosamente, deve ter sido um estudante medíocre. Dirigi-me à Wikipedia bisbilhotar May: o cara, além de ter estudado nos departamentos de Física e Matemática do Imperial College London, já fazia doutorado quando o Queen começou a fazer sucesso, abandonando o curso. Utilizando impropriamente minha imaginação, "pulei" à conclusão que um guitarrista qualquer um pode ser, quando deparo com a informação que May é o compositos das músicas "We will rock you" e "Who wants to live forever", duas das minhas três músicas prediletas do Queen e grandes sucessos mundiais e que ele acaba de defender sua tese de doutorado intitulada "Radial Velocities in the Zodiacal Dust Cloud"! O cara é astrofísico, roqueiro de sucesso, ótimo compositor, famoso e ainda conseguiu defender tese de doutorado antes de mim, que não faço absolutamente nada! Sou um incompetente.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O que é navegar

A internet é sem dúvida uma nova forma ainda incompletamente explorada de divulgar idéias, de se tornar conhecido, de aprender. Há alguns minutos li esta notícia no blog Boing Boing sobre uma exposição de uma biblioteca devotada ao ocultismo que pertenceu a um ator americano chamado Jackie Gleason. Como não ouvira falar no tal, consultei o oráculo moderno no verbete correspondente. Ali descobri que o Gleason guy teve grande interesse em OVNIs e que teria mesmo visto cadáveres de extraterrestres a convite de seu amigo o presidente americano Richard Nixon, segundo relata o ufologista Timothy Good, aparentemente descrevendo o que lhe dissera a viúva de Gleason. Em minha monumental ignorância reconheço que jamais ouvira falar deste ufologista (e nem de muitos outros) e resolvi continuar apreciando as palavras do wikipédico oráculo, consultando quem era Good. Descubro que o dito cujo além de ufologista é também talentoso violinista e que tem uma homepage, que decido visitar. Lá chegando, leio uma resenha sobre um recente livro de Good, Need to Know, em que descubro fascinado o seguinte trecho:

"It is full of revelations, including the alarmingly high number of aircraft crashes following military attacks on UFOs; the disappearance of hundreds of military and civilian aircraft during UFO encounters; and the amazing information provided by a surgeon who operated on an alien captured by the Brazilian army in 1996."

Isso mesmo, o livro contém informações sobre um cirurgião que operou um alienígena capturado pelo exército brasileiro em 1996. Uma clara menção ao ET de Varginha, parece-me. Por mais improvável, confesso ter uma curiosidade mórbida por esse tipo de coisa, acho que comum en leitores de ficção científica. Para finalizar, não resisto à tentação de um último lugar comum: que internet pequena.

Robô na Lua

Direto do forno. Saiu na Wired Magazine: a Google oferece um prêmio de US$ 20 milhões, isso mesmo, vinte milhões de dólares para a primeira equipe privada a colocar um robô na Lua. A iniciativa privada começa a realmente mostrar interesse no espaço, já li sobre a construção de um hotel em órbita e agora esse prêmio. Mas meu objetivo mesmo é Marte: ainda sonho em ser um colonizador em Marte e estudar os solos de lá. A Lua não me interessa muito, deixo os vinte mega para outro.

Crimson Dark de novo

Acabo de ler o último episódio do capítulo quarto de Crimson Dark e tenho de compartilhar isto com vocês, ainda inexistentes leitores: muito melhor do que pensei, excelentes gráficos, ótima ficção científica, ação emocionante. Um page turner virtual. Estou ansiosamente esperando os próximos episódios. Os que não acessarem estarão perdendo muito.

Philip Ball, escritor e blogger prolífico

Contribuidor constante da Nature, escritor (lançou há pouco uma bem recebida biografia do alquimista Paracelso) e blogger prolífico (conheço dois blogs dele, ambos excelentes, homunculus e Water in Biology), Philip Ball parece ser o tipo de profissional que todo blogger metido a nerd gostaria de ser. Recomendo aos que querem se iniciar seu post criticando a bobagem homeopática e a mítica memória da água.

Mais webcomic

Interessante, nerd e engraçado. Comedity vale uma visita e depois várias. Linkei a partir do Crimson Dark, que aliás fica cada strip melhor.

Sandwalk

Por falar em blogs de divulgação científica, meu predileto e o que acho mais bem escrito, é o Sandwalk, publicado pelo cientista canadense Larry Moran. Ótimo site. Um artigo dele que acho genial, por sua concisão e clareza é este. O autor é professor do Departamento de Bioquímica da Universidade de Toronto, no Canadá e autor de vários livros-texto sobre Bioquímica. Sandwalk é um caminho (passeio) localizado atrás da casa de Charles Darwin em Down, Inglaterra. Charles Darwin é possivelmente um dos maiores seres humanos que já caminharam sobre este torturado planeta. Isso é conversa é um ótimo blog ainda sem leitores.

Divulgação científica para crianças

A Ana Cláudia Lessinger, autora do blog de divulgação científica Via Gene, atualmente um tanto quanto irregular na postagem, resolveu criar um blog de divulgação científica para crianças, o Via Gene Kids. Ótima iniciativa, espero que tenha sucesso.