terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ritos de passagem

Até que enfim, estou terminando meu doutorado. Terminei de escrever a tese e já estou entregando as cópias para os componentes da banca de defesa, que será dia 18 próximo, permitindo as forças reguladoras universais. Foi um parto extremamente sofrido, como foi todo o último ano. Tive problemas com meu primeiro projeto de tese, tratando da biogeoquímica do silício, e com o segundo, no qual analisava o uso da água por diferentes culturas agrícolas, mas acabei desenvolvendo uma tese com minha grande paixão acadêmica, o seqüestro de carbono por solos tropicais. Destas linhas tortas escritas pelo Destino que resultam num texto primoroso. A pós-graduação é uma das últimas instituições modernas que mantêm ritos de passagem tradicionais e rigorosos. Aqui no departamento de solos da UFV, durante o doutorado, apresentamos dois seminários, passamos por uma qualificação e finalmente enfrentamos a defesa da tese. Desnecessário dizer que nenhum destes ritos é fácil. Mas é interessante, ganha-se auto-confiança para enfrentar outros desafios. Há no entanto um ponto estranho nisto tudo: estes ritos causam uma dependência psicológica. Para mim, não adianta que tenha passado por todas as outras etapas, tenha feito bem todas as disciplinas, não me sinto um doutor, nem me sentiria se parasse com tudo hoje, sei que só me sentirei merecedor deste título depois (e não imediatamente) da defesa da tese, mesmo sabendo que esta é em geral a etapa mais "tranqüila", mas é o rito final, depois do qual serei um doctor scientiae. Como somos estranhos nós, os primitivos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Opinião dissidente

Apesar do entusiasmo inicial com o blog, abandonei de certa forma o Isso é conversa pela mundana razão de não ter absolutamente leitores outros que não eu mesmo. Como além deste mantenho outros blogs de mais "sucesso", deixei de lado este filho feio. Grande tolice. Que escritor deixa de produzir sua obra por prever que não será lida? Se até o grande orador Pe. Antônio Vieira se contentava em pregar aos peixes por falta (retórica) de ouvintes, quem sou eu para me eximir de dizer o que penso. Se não tenho leitores, escreverei para os bits. Gosto muito da idéia dos memes teorizada, até onde sei, por Richard Dawkins. Memes são idéias que agem como genes, conseguem se reproduzir e "pegam". O problema, quando se medita a coisa, é a impressão de que não temos pensamentos, idéias, opiniões próprias. Regurgitamos, felizes, idéias dos outros, dos criadores de memes, dos formadores de opinião, etérea elite intelectual ou o que seja. Esta geração que aí está, filha dileta de Malhação e outras excrescências, ou melhor, outros excrementos culturais, creio que abandonou o status de pensante e passou a ser repetente. Apenas repetem o que lhes dizem ser suas opiniões, pouco elaboradas e da profundidade de um pires, nas palavras de um professor que admiro, espécime raro da evanescente espécie dos que sabem pensar. A opinião dissidente é hoje uma vergonha, no mínimo uma excentricidade grosseira. O mundo ideal seria composto de papagaios adolescentes clonados. Pessoas que pensam geralmente não assistem novelas ou filmes comerciais, não fazem questão de comprar presentes de natal, não usam roupas de marca, não se emocionam com o Jornal Nacional, detestam o carnaval da televisão, acham a Xuxa uma anomalia, não são "antenados". Aliás, a expressão "ser antenado" deixa claro o mecanismo de receptividade aos memes assassinos de neurônios e de nula transmissividade de programação própria. Eu prefiro discordar.